A Escrita-desvio em Fernand Deligny
Resumo
Esse texto, ou melhor, a atração por pensar a escrita em Deligny surge
como um feitiço, tal qual o encantamento das crianças pelo som do
flautista de Hamelin, no conto dos Irmãos Grimm. Sem saber para
onde estão indo, as crianças simplesmente vão, seguindo fascinadas
o som sedutor da melodia ecoada pela flauta mágica. Um rapto
alegremente consentido, cujos obstáculos só se apresentam à medida
que os passos avançam na estrada, sendo o esforço, direcionado ao
ritmo da aparição das interferências. Na tentativa de esboçar um breve
itinerário da escrita delignyana como um interesse de estudo, posso
dizer que encontro Deligny a partir dos textos de Gilles Deleuze e Felix
Guattari (o encontro na direção contrária também seria pertinente),
e em seguida, através da compilação espanhola – Fernand Deligny:
Permitir, trazar, ver2. Procedendo por tentativas, empreendi a leitura da
1 Comunicação Oral elaborada para Encontro Internacional Fernand Deligny: com, em torno
e a partir das tentativas, no período de 25 a 27 de agosto de 2016, na PUC-Rio. Como
material base para comunicação foi utilizado o compêndio de textos publicados em
« DELIGNY, F. OEuvres. Édition établie e presentée par Sandra Alvarez de Toledo. Paris:
L’Arachnéen, 2007». A questão da escrita também foi tema de debate na JORNADA
FERNAND DELIGNY: A ARTE DA TENTATIVA, realizado em 04 de dezembro de 2015
na Universidade Federal Fluminense, organizado pelas professoras Heliana de Barros
Conde Rodrigues (UERJ) e Adriana Rosa (UFF/Nitéroi.)
2 DELIGNY, F. Fernand Deligny: permitir, trazar, ver. Barcelona: Museu d’Art
Contemporani, 2009.
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Thalita Carla de Lima Melo
A Escrita-desvio em Fernand Deligny
Cadernos Deligny
volume I / número 1
coletânea em espanhol, que me levou a traduzir o lindo texto ‘Diário
de um educador’, publicado ano passado pela revista Mnemosine3.
A tarefa de tradução é penosa, não apenas pelo enfrentamento da
língua francesa, mas, principalmente por me ver diante de uma
língua estrangeira dentro do francês, pois tais escritos aprontam
travessuras com a língua formal. Nos primeiros passos nessa corda
bamba (é assim que me sinto ao entrar em contato com os textos
de Deligny) foi possível perceber que sua escritura era um modo de
vida, que sua existência era sustentada pelo escrever incessante,
initerrupto, obcecado. Um fato intrigante que me provocou o interesse,
especificamente, na questão da escrita.